Tuesday, April 9, 2019

MICRO MEMÓRIAS 2


...o policial de Jerusalém oriental (Jerusalém 27 Dez 05)

...Fomos convidados, eu e meu parceiro Lívio Tragtenberg, para apresentarmos o clássico "São Paulo, a Symphonia da Metrópole" filme de 1929, P&B, silencioso, que "animávamos" ao vivo : com sons, músicas e outros truques - durante as comemorações do aniversário de 50 anos da Cinemateca de Jerusalém. O contato havia assistido nossa apresentação no Auditório do Museu do Louvre em Paris no ano anterior, durante o Ano do Brasil na França.

A apresentação seria dia 20 de Dezembro e aproveitei para estender minha estada até dia 30 de Dezembro e assim passar o Natal na terra natal. O Lívio resolver voltar antes. Andei muito a pé por toda a região. Visitei inúmeras vezes a cidade antiga de Jerusalém- que é fascinante - indo a princípio no Mercado, explorando cada vez mais distante para a parte judia : muro das lamentações, espaços "american-like" lotados de jovens soldados fortemente armados; depois ainda andei até a parte católica como a Igreja do Santo Sepulcro, as diversas paradas da Crucificação na Via Dolorosa. Por fim, acabei fazendo umas incursões na parte árabe da cidade velha, até a entrada do Domo da Rocha - proibido para não muçulmanos. Fiz o "tour" das muralhas - um percurso de 6 Km e bem perigoso - por sobre as muralhas que cercam a cidade - lindas vistas e alvo fácil para qualquer "sniper". Filmes que fiz durante estas caminhadas foram utilizados no projeto "4 Impro-Relâmpagos sobre as pedras de Jerusalém" que realizei anos mais tarde no CCJ Centro de Cultura Judaica em São Paulo. Friso aqui que não sou judeu, sendo uma mistura vira-lata (como todo brasileiro) de poloneses, italianos, austríacos e ucranianos. Nenhum de origem judaica.

Corta. 

Caminhando tranquilamente na parte árabe da cidade velha, ao redor de meio dia, fotografando tudo em digital - principalmente meus passos naquelas pedras sem idade. De repente, me dei conta dos arredores, arquitetura de milenar pobreza, umas crianças jogando uma bola improvisada num chão inclinado de pedra improvável campinho. Jovens árabes em roda conversando. Tudo começou a  parecer, a mim, algo suspeito e potencialmente perigoso - coisa de "nóia" de cidade grande e perigosa com SP- e aumenta... É uma região em guerra... Pensando em não perder a elegância, fui guardando pertences na mochila e tratando de cair fora dali. Sei, mas para onde? (#nóia). Peguei o mapa e não consegui entender onde estava. Sentar para olhar melhor, nem pensar! (#nóiadidádó). Cada vez mais parecia estar pagando uma de gringo inocente doido tirando fotos-auto-ostentação na Rocinha!! Por mais que as pessoas parecessem e estarem nem aí comigoPPP Pura Paranóia Paulistana !! Pausa. ... seguramente era um bairro popular e nada aconteceria !! A curiosidade era recíproca e inevitável - já viu um gringo filmando o pé?

Mas, fui andando já um tanto mais apavorado subindo uma viela. Logo no topo da viela vi um soldado/policial árabe armado literalmente até os dentes. Colete com 6 pentes de uma automática que trazia a tiracolo, duas pistolas uma de cada lado, num coldre maneiro a altura da barriga. Cheguei sorridente e tasquei : Please sir, do you speak english ? Yes, ele respondeu. Ufa!, pensei. Do you know how can I reach the way to the Jaffa's gate? perguntei. Where are you from ? Ele me perguntou. Brazil ! respondi. Pausa. 

Ao que ele me respondeu em português quase fluente : eu trabalhei na 25 de Março !! 

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